Quando o passar dos anos é um mero detalhe
Cabelos grisalhos, alto e um pouco fragilizado pelo passar dos anos. A memória pode até não ajudar a contar os detalhes dos acontecimentos, mas as lembranças dos títulos como competidor de atletismo ainda preenchem os olhos de Guilherme Burico Júnior de lágrima. Quem vê seu Willi, como é conhecido, dirigindo a inseparável carroça, não consegue acreditar que ele já está quase nos 81 de idade, a serem completos na próxima quinta-feira (7). Uma tradição que faz questão de manter, mesmo diante do avanço do tempo e da praticidade dos meios de transporte que os dias atuais oferecem.
A felicidade se realiza aos sábados, quando seu Willi acorda cedo, encilha os cavalos e sai com os parentes e amigos na carroça. “Domingo passado eu e meu filho viajamos 60 km. Aos sábados, eu saio e levo minha bisneta. Tem tanta gente que pede para dar uma volta de carroça”, conta ele. Apesar do trânsito complicado e da correria do dia a dia, Willi garante que as pessoas continuam respeitando esse transporte. E com esse sentimento, ele pode continuar com a tradição.
Bastam poucos minutos na presença deste simpático senhor para perceber que, além do atletismo, ele sempre teve uma paixão, por cavalos e a carroça. Algo que já ultrapassa os 60 anos. Seu Willi cuida de dois cavalos, com a ajuda da segunda esposa, Maria Salvelina Silva (61), companheira também inseparável nos últimos 10 anos.
Para ele, a estreita escada de pedra, ‘enjambrada’, e que leva até o pequeno celeiro, é tão fácil de ser vencida quanto o trabalho de laçar o cavalo. “Isso era meu sonho desde pequeno. E a gente não podia ter, era pobre mesmo. Só não passei fome na vida, mas lutei muito, até que consegui comprar esse terreno aqui”, ressalta ele, sempre em meio a sorrisos.
O vigor físico à beira dos 80 anos chama atenção. E ele ressalta que isso tudo é fruto do estilo de vida que optou e, principalmente, dos tempos em que o esporte fazia parte dos seus dias. Os treinos para ser tornar um atleta ocorriam quando seu Willi saía da fábrica onde trabalhava, após o terceiro turno, e corria até sua residência, no Bairro Limeira Baixa. “Eu corria de lá até aqui e não tinha chuveiro. Tomava meu banho no rio da Limeira, às 5h30 da manhã, esse era meu chuveiro”, relembra ele.
A carreira começou em 1951, quando conquistou o primeiro troféu pelo Paysandu. Até 1955, faturou um título a cada ano e foi, também, quando se consagrou o primeiro campeão estadual pelo Sesi. Até que uma cirurgia em cada joelho encerrasse a vida esportiva de seu Willi.